quinta-feira, 19 de abril de 2012

O Cartoon

Um cartoon é um desenho humorístico, de carácter extremamente crítico retractando de uma forma bastante sintetizada algo que envolve o dia-a-dia de uma sociedade, tendo ou não legenda.

O termo Cartoon de origem Britânica, significado original da palavra cartoon é mesmo "estudo", ou "esboço", e é muito utilizada nas artes plásticas, o qual foi pela primeira vez utilizado neste contexto na década de 1840, quando a revista Punch publicou uma série de charges que parodiavam estudos para os frescos do Palácio de Westminster, adaptados para satirizar acontecimentos da política contemporânea. O significado original da palavra cartoon é mesmo "estudo", ou "esboço", e é muito utilizada nas artes plásticas.


Este tipo de desenho é ainda considerado uma forma de comédia e mantém o seu espaço na imprensa escrita actual.

Caricatura

Caricatura é um desenho de um personagem da vida real, enfatiza e exagera as características da pessoa de uma forma humorística, assim como em algumas circunstâncias acentua gestos, vícios e hábitos particulares em cada indivíduo.

Caricatura deriva do italiano ‘caricare’ que significa carregar, aumentar em proporção.

A distorção e o uso de poucos traços são comuns na caricatura. Diz-se que uma boa caricatura pode ainda captar aspectos da personalidade de uma pessoa através do jogo com as formas. É comum sua utilização nas sátiras políticas; às vezes, esse termo pode ainda ser usado como sinónimo de grotesco (a imaginação do artista é priorizada em relação aos aspectos naturais) ou burlesco.



  Rock Balboa, por Lukas Art.                                                           Rowan Atkinson.

Rafael Bordalo Pinheiro


Rafael Augusto Prostes Bordalo Pinheiro (Lisboa, 21 de Março de 1846 — 23 de Janeiro de 1905) foi um artista português, de obra vasta dispersa por largas dezenas de livros e publicações, precursor do cartaz artístico em Portugal, desenhador, aguarelista, ilustrador, decorador, caricaturista político e social, jornalista, ceramista e professor.

O Impressionismo

O Impressionismo é um movimento artístico surgido na França no século XIX que criou uma nova visão conceptual da natureza utilizando pinceladas soltas e realçando a luz e o movimento. Geralmente as telas eram pintadas ao ar livre para que o pintor pudesse capturar melhor as nuances da luz e da natureza.

A arte alegre e vibrante dos impressionistas enche os olhos de cor e luz. A presença dos contrastes, da natureza, transparências luminosas, claridade das cores, sugestão de felicidade e de vida harmoniosa transparece nas imagens criadas pelos impressionistas. O Impressionismo mostra a graciosidade das pinceladas, a intensidade das cores e a sensibilidade do artista, que em conjunto emocionam quem contempla as suas obras.



Curiosidade: Os impressionistas retractam nas suas telas os reflexos e os efeitos que a luz do sol produz nas cores da natureza. A fonte das cores está nos raios do sol. Uma mudança no ângulo destes raios implica a alteração de cores e tons. É comum um mesmo motivo ser retratado diversas vezes no mesmo local, porém com as variações causadas pela mudança nas horas do dia e nas estações ao longo do ano.

Pintando directamente na tela branca, utilizando somente cores puras sobrepostas, geralmente sem misturá-las, os impressionistas procuram obter a vibração da luz, o aspecto momentâneo da vida, fugaz momento da luz e da sensibilidade, acto de amor entre artista e o mundo, despido de toda e qualquer eventualidade exterior às suas motivações mais profundas.



Os principais representantes do impressionismo foram Monet, Manet, Renoir, Degas, Camile Pissaro, Alfred Sisley, Vincent Van Gogh, Cézanne, Caillebotte, Mary Cassatt, Boudin (professor de Monet), Morisot, entre outros.

Impression du Soleil Levant - Monet

quinta-feira, 12 de abril de 2012

De Tarde - Cesário Verde

Naquele pic-nic de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!

Análise
·         O poema "De Tarde" é um exemplo de arte parnasiana, narrativa e plástica, desejosa de naturalidade e de plena consecução formal.

·         Espaço  (campestre) - "um granzoal", "em cima duns penhascos".

·         Tempo - "De tarde", "Pouco depois.../...inda o sol se via".

·         Personagens -"burguesas", "tu", "Nós".
·         Acção - um "pic-nic", "descendo do burrico, / Foste colher... (...) / Um ramalhete rubro de papoulas", "Nós acampámos  (...) / E houve talhadas de ..." .

 

Num Bairro moderno de Cesário Verde

Dez horas da manhã; os transparentes
Matizam uma casa apalaçada;
Pelos jardins estancam-se as nascentes,
E fere a vista, com brancuras quentes,
A larga rua macadamizada.

Rez-de-chaussée repousam sossegados,
Abriram-se, nalguns, as persianas,
E dum ou doutro, em quartos estucados,
Ou entre a rama do papéis pintados,
Reluzem, num almoço, as porcelanas.

Como é saudável ter o seu conchego,
E a sua vida fácil! Eu descia,
Sem muita pressa, para o meu emprego,
Aonde agora quase sempre chego
Com as tonturas duma apoplexia.

E rota, pequenina, azafamada,
Notei de costas uma rapariga,
Que no xadrez marmóreo duma escada,
Como um retalho da horta aglomerada
Pousara, ajoelhando, a sua giga.

E eu, apesar do sol, examinei-a.
Pôs-se de pé, ressoam-lhe os tamancos;
E abre-se-lhe o algodão azul da meia,
Se ela se curva, esguelhada, feia,
E pendurando os seus bracinhos brancos.

Do patamar responde-lhe um criado:
"Se te convém, despacha; não converses.
Eu não dou mais." È muito descansado,
Atira um cobre lívido, oxidado,
Que vem bater nas faces duns alperces.

Subitamente - que visão de artista! -
Se eu transformasse os simples vegetais,
À luz do Sol, o intenso colorista,
Num ser humano que se mova e exista
Cheio de belas proporções carnais?!

Bóiam aromas, fumos de cozinha;
Com o cabaz às costas, e vergando,
Sobem padeiros, claros de farinha;
E às portas, uma ou outra campainha
Toca, frenética, de vez em quando.

E eu recompunha, por anatomia,
Um novo corpo orgânico, ao bocados.
Achava os tons e as formas. Descobria
Uma cabeça numa melancia,
E nuns repolhos seios injetados.

As azeitonas, que nos dão o azeite,
Negras e unidas, entre verdes folhos,
São tranças dum cabelo que se ajeite;
E os nabos - ossos nus, da cor do leite,
E os cachos de uvas - os rosários de olhos.

Há colos, ombros, bocas, um semblante
Nas posições de certos frutos. E entre
As hortaliças, túmido, fragrante,
Como alguém que tudo aquilo jante,
Surge um melão, que lembrou um ventre.

E, como um feto, enfim, que se dilate,
Vi nos legumes carnes tentadoras,
Sangue na ginja vívida, escarlate,
Bons corações pulsando no tomate
E dedos hirtos, rubros, nas cenouras.

O Sol dourava o céu. E a regateira,
Como vendera a sua fresca alface
E dera o ramo de hortelã que cheira,
Voltando-se, gritou-me, prazenteira:
"Não passa mais ninguém!... Se me ajudasse?!..."

Eu acerquei-me dela, sem desprezo;
E, pelas duas asas a quebrar,
Nós levantamos todo aquele peso
Que ao chão de pedra resistia preso,
Com um enorme esforço muscular.

"Muito obrigada! Deus lhe dê saúde!"
E recebi, naquela despedida,
As forças, a alegria, a plenitude,
Que brotam dum excesso de virtude
Ou duma digestão desconhecida.

E enquanto sigo para o lado oposto,
E ao longe rodam umas carruagens,
A pobre, afasta-se, ao calor de agosto,
Descolorida nas maçãs do rosto,
E sem quadris na saia de ramagens.

Um pequerrucho rega a trepadeira
Duma janela azul; e, com o ralo
Do regador, parece que joeira
Ou que borrifa estrelas; e a poeira
Que eleva nuvens alvas a incensá-lo.

Chegam do gigo emanações sadias,
Ouço um canário - que infantil chilrada!





Lidam ménages entre as gelosias,
E o sol estende, pelas frontarias,
Seus raios de laranja destilada.

E pitoresca e audaz, na sua chita,
O peito erguido, os pulsos nas ilhargas,
Duma desgraça alegre que me incita,
Ela apregoa, magra, enfezadita,
As suas couves repolhudas, largas.

E, como as grossas pernas dum gigante,
Sem tronco, mas atléticas, inteiras,
Carregam sobre a pobre caminhante,
Sobre a verdura rústica, abundante,
Duas frugais abóboras carneiras.



Análise




·         Título a sugerir um ambiente moderno, burguês.

Ø  Espaço: “ casa apalaçada” ; “ pelos jardins estancam-se as nascentes”; “larga rua macadamizada “; “dez-de-chaussés repousam”; “ quartos esticados “; “rama dos papeis pintados”.

Ø  Tempo: “dez horas da manhã”.

·         Estado psicológico do sujeito lírico: angustiado (desce para o seu emprego com sintomas de dança:” tonturas duma apoplexia”).

·         Por oposição à burguesia, emerge o povo, símbolo da classe trabalhadora, na personagem da vendedeira de legumes: “rota, pequenina, azafamada”; “ressoam-lhe os tamancos”…

·         No poema, identificamos as dicotomias cidade/ campo e burguesia/ povo.

·         O sujeito poético transfigura o real através da sua imaginação:

“Subitamente, que visão de artista”

Ø  Melancia à Cabeça.

Ø  Repolhos à Seios.

Ø  Azeitonas à Tranças do cabelo.

Ø  Nabos à Ossos.



Cesário Verde Biografia

(N. 1855 – M. 1886) – séc. XIX

·         Dedicou-se a actividades comerciais, agrícolas e literárias.

·         Matriculou-se no curso superior de letras, onde conheceu Silva Pinto.

·         Morte prematura, devido à tuberculose.

·         A poesia de Cesário Verde representava o quotidiano.

·         A única obra publicada é O Livro de Cesário Verde, uma publicação póstuma, organizada pelo seu amigo Silva Pinto.