segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Estrutura externa e interna da peça


A função essencial do texto dramático é servir de base à representação. As peças de teatro compõem-se de um texto principal, constituído pelas falas ou réplicas das personagens e de um texto secundário, didascálico, que fornece informações sobre o cenário, os adereços, a iluminação, o tom do discurso, os gestos e atitudes dos atores. A lista das personagens intervenientes na peça, a distribuição do texto em atos e cenas fazem também parte da didascália.
Nota: a mudança de ato constitui um corte no texto e, em geral, um momento de pausa no espetáculo, sugerindo a mudança de lugar ou a passagem do tempo. A divisão em cenas é marcada pela entrada ou saída de personagens.

A didascália leva-nos à compreensão da estrutura externa, isto é da organização da obra; o texto principal permite-nos analisar a estrutura interna, identificando os diferentes momentos da ação em cada ato e a ligação entre os atos.
Ao nível da estrutura externa, Felizmente há luar ! divide-se em dois atos (que representam dois dias),  sendo que no interior de cada ato não existe divisão em cenas.

Seguidamente apresentamos uma síntese dos principais momentos que ocorrem no primeiro ato:
- A peça abre com um monólogo de Manuel ,” o mais consciente dos populares “, sobre a situação politica do país: “Que posso eu fazer? Sim: que posso eu fazer?”; seguido de um diálogo sobre o mesmo tema em que participam outros elementos do povo.
- O povo, vítima de miséria e da opressão, sonha com a salvação, motivado pela esperança que depositam sobre o General Gomes Freire – é a mitificação do herói.
- Vicente, homem do povo, considera Gomes Freire um “estrangeirado”; mais tarde, será levado a D. Miguel de Forjaz, onde Vicente trai a sua classe social, com a promessa de D. Miguel torná-lo chefe de polícia.
- D. Miguel, preocupado com uma revolução, manda Vicente vigiar a casa de Gomes Freire.
- Beresford anuncia que Lisboa se prepara para uma revolta contra o poder (D. Miguel e Principal Sousa), quem o informa é o Capitão Andrade Corvo e Morais Sarmento.
- Os governadores do reino tomam a decisão de destruir o líder dos conspiradores.
- Vicente informa os governadores do número de pessoas que entraram em casa de Gomes Freire; Andrade Corvo, revela aos governadores quem é o chefe dos conspiradores é o General Gomes Freire.
- D. Miguel ordena a prisão dos conspiradores, mas o se único objetivo é a eliminação de Gomes Freire.

Segundo ato:
- O segundo ato começa precisamente como o primeiro. As palavras de Manuel repetem o sentimento de impotência já expresso no início do primeiro ato: “Que posso eu fazer? Sim, que posso eu fazer?” mas, agora, de uma maneira mais profunda, devido à prisão do General Gomes Freire, que encarnava a esperança de libertação do povo. Tal como no primeiro ato, participam neste momento outros elementos do povo que comentam a detenção do general.
- A polícia proíbe os aglomerados dos populares para evitarem uma revolução.
- Matilde procura Beresford, a fim de interceder pelo marido; objetivo que não alcança, pois, através do diálogo com Matilde, o governador humilha Gomes Freire.
- O padre informa que será feita uma ação de graças em todas as paróquias e igrejas dos conventos por todos aqueles que se tinham insurgido contra o governo.
- Matilde apercebe-se da indiferença dos populares perante a situação em que se encontra o seu marido (na realidade, eles não têm qualquer hipótese de o ajudar; a traição a que o povo é obrigado é simbolizada na moeda que Manuel oferece a Matilde); sabe-se, entretanto que Vicente é chefe de polícia.
- António de Sousa Falcão transmite a notícia de que a situação de Gomes Freire é cada vez mais critica (não são autorizadas visitas, encontra-se numa masmorra às escuras, não lhe permitem escolher um advogado, descuida-se a sua higiene física e a sua alimentação).
- Matilde pede ao Principal Sousa que liberte o marido, o governador não a recebe.
- Frei Diogo, que confessara Gomes Freire, revela a sua solidariedade para com Matilde.
- Matilde acusa Principal Sousa de não adotar o comportamento que seria de esperar de um Bispo.
- Sousa Falcão informa a esposa de general de que já havia fogueiras em S. Julião da Barra, para onde Gomes Freire tinha sido levado, o que leva Matilde a implorar de novo ao Principal Sousa a visa de seu marido.
- Matilde tenta consolar-se através da religião; depois lança aos pés do Principal Sousa a moeda que Manuel lhe dera.
- Matilde assiste à execução do marido, vendo o seu corpo ser devorado pelas chamas, ainda que imagine que o seu espírito vem abraça-la: profetiza uma nova vida para Portugal, simbolizada no clarão da fogueira, fruto de uma revolução que encerraria o período de ditadura.

A obra apresenta todo o processo que conduziu à execução do general Gomes Freire de Andrade. No primeiro ato trama-se a sua prisão e, no segundo, verifica-se a sua execução.






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