quinta-feira, 31 de maio de 2012

Alberto Caeiro

Apresenta-se como um simples “guardador de rebanhos ”que só se importa com a forma objectiva e natural da realidade com a qual contacta a todo o momento.

Considera que “pensar é estar doente dos olhos”, ver é conhecer e compreender o mundo, por isso pensa vendo e ouvindo. Além disso, Caeiro é o poeta da Natureza, que está de acordo com ela e a vê contente a sua renovação. E porque só existe a realidade, o tempo é ausência de tempo sem passado, presente ou futuro, pois todos os instantes são unidade do tempo.

Caeiro só se interessa por aquilo que capta pelas sensações. Nesta medida, é um sensacionista. Vive aderindo espontaneamente às coisas, tal como são, e procura gozá-las com despreocupação o conteúdo original da Natureza. Mestre de Pessoa e dos outros heterónimos. Dá especial importância ao acto de ver, mas é sobretudo a inteligência que discorre sobre as sensações. Passeando e observando o mundo, personifica o sonho da reconciliação com o universo, com a harmonia pagã e primitiva da Natureza.

Caeiro, com a intelectualidade do seu olhar, liberta-se dos preconceitos, recusa a metafísica, o misticismo e o sentimentalismo social e individual.

Alberto Caeiro olha para os elementos da Natureza e está sempre atento (animal humano que a natureza produziu). O pensamento, para ele, gere infelicidade, dor de pensar.




Criança Desconhecida

Criança desconhecida e suja brincando à minha porta,
Não te pergunto se me trazes um recado dos símbolos.
Acho-te graça por nunca te ter visto antes,
E naturalmente se pudesses estar limpa eras outra criança,
Nem aqui vinhas.
Brinca na poeira, brinca!
Aprecio a tua presença só com os olhos.
Vale mais a pena ver uma cousa sempre pela primeira vez que conhecê-la,
Porque conhecer é como nunca ter visto pela primeira vez,
E nunca ter visto pela primeira vez é só ter ouvido contar.

O modo como esta criança está suja é diferente do modo como as outras estão sujas.
Brinca! pegando numa pedra que te cabe na mão,
Sabes que te cabe na mão.
Qual é a filosofia que chega a uma certeza maior?
Nenhuma, e nenhuma pode vir brincar nunca à minha porta.

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