quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Mitificação do herói em "Os Lusíadas"


A presença de divindades mitológicas é uma constante ao longo de todo o poema que, curiosamente (ou não), começa com um consílio entre os deuses e termina com a Ilha dos Amores.
À primeira vista, tudo isso poderia parecer uma grande contradição com as convicções do poeta, que era não só assumidamente cristão, como ainda um grande apelador da expansão da Fé e do espírito de cruzada. Mas essa contradição era facilmente explicada pelo seu espírito renascentista; pela capacidade que os humanistas possuíam em conjugar aspetos que, para muitos, seriam simplesmente inconciliáveis.
Além disso, e segundo a opinião de muitos estudiosos, a mitologia estava apenas presente por uma questão de estética e erudição. Nada mais representava, não constituindo sequer uma ameaça aos postulados da Igreja cristã. Assim pensou o padre Bartolomeu Ferreira, que leu a obra na figura de censor da Inquisição, e a autorizou sem achar “cousa alguma escandalosa”.
Na atualidade, porém, reconhece-se que o valor da mitologia é muito mais profundo e significativo, não podendo ela continuar a ser encarada como mera partícula decorativa. Os deuses pagãos têm uma vida própria e autónoma; têm a capacidade de intervir e influenciar o destino dos homens; possuem, em suma, o estatuto de verdadeiras personagens principais no contexto do poema. Basta analisar o confronto entre Baco e Vénus, cada qual com os seus aliados, para compreendermos o carácter e a profundidade que estas figuras assumem no desenrolar da narrativa. 


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