terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Personagens relacionadas com D. João V

As personagens relacionadas com D. João V são as seguintes:

·         D. Maria Ana Josefa de Áustria:
A personagem D. Maria Ana é apresentada como uma rainha triste e insatisfeita que vive um casamento de aparências, onde as regras e as formalidades se estendem até o leito conjugal, fazendo do acto de amor com el-rei um encontro frio, programado e indiferente, que tem como maior objectivo o milagre da fecundação. É sobretudo este aspecto que leva el-rei D. João V a fazer uma promessa de levantar um convento em Mafra, caso a concepção ocorresse.
·         Bispo Inquisidor:
D. Nuno da Cunha ou Bispo Inquisidor que leva frei António de S. José à presença de D. João V.
·         Frade franciscano:
Frei António de São José é o franciscano que alega ter tido a premonição na qual diz que o rei terá a tão desejada sucessão se este construir um convento franciscano. Perante esta condição, D. João V promete construir um convento em Mafra se tiver um filho varão dentro de um ano a partir desse mesmo dia. É revelado no romance pelo narrador que esta premonição é falseada pelo clero, pois este já sabia da gravidez da rainha através do confessionário, com a revelação de mais "milagres" produzidos pela ordem franciscana ou que são apenas coincidências.
·         Domenico Scarlatti:
Primeiramente professor do infante D. António, irmão de D. João V, passando depois a ser professor da infanta D. Maria Bárbara. Exerceu assim as funções de mestre-de-capela e professor da Casa Real de 1720 a 1729, durante a qual escreveu diversas peças musicais. Com tais dados registados na História oficial, esta personagem referencia ainda mais uma credibilidade ao enquadramento histórico da narrativa.
Embora contratado pelo rei, é também um representante de contra poder devido à sua liberdade de espírito e pelo o seu poder libertador e subversivo da sua música. Como tal, a convite do padre Bartolomeu, é um participante do projecto da passarola, embora indirectamente, como um cúmplice silencioso. Deste modo o narrador une a ciência e a arte, e demonstra como ambas são reveladoras de um espírito de inovação, de tolerância e de abertura ao progresso e à modernidade.
Assim, Scarlatti instala secretamente o seu cravo para a Quinta do Duque de Aveiro, onde toca a sua música e inspira os construtores da passarola. Mais tarde, quando Blimunda ficou com uma estranha doença causado pela exaustão da recolha das vontades, o músico tocava frequentemente para Blimunda até provocar a sua cura completa.
Deste modo é revelado que a música, aliada ao sonho, permite a cura e ajuda a conclusão e o voo da passarola, simbolizando o ultrapassar, por parte do homem, de uma materialidade excessiva e o atingir da plenitude da vida.
A amizade deste com o padre Bartolomeu, originada pela compreensão e pela partilha das mesmas ideias e sonhos, representa a articulação entre a cultura e o humano, entre o saber e o sonho, entre o conhecimento e o desejo.
Por fim, Scarlatti é o mensageiro da morte do padre Bartolomeu a Blimunda e Baltasar.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O Barroco em Portugal

barroco em Portugal desenvolve-se entre 1580 e 1756. Em 1580, Portugal perde sua autonomia como país, passando a integrar o reino da Espanha. Em 1756 funda-se a Arcádia Lusitana – uma academia poética -, e tem início um novo estilo: o Arcadismo.
Ao contrário do resto da Europa (onde se vivia um forte sistema político absolutista) o Barroco português não se inicia em 1600. Portugal encontra-se nesta época em profunda crise política, económica e de identidade social; provocada principalmente pela perda do trono para Felipe II de Espanha. A nobreza abandona as cidades, saindo para o campo, levando pequenas cortes consigo, desta forma tentando preservar a identidade sócio-cultural portuguesa. Fechados às influências de Espanha, encontram-se também fechados ao mundo. É nesta época que nasce Arquitectura Chã.
A arquitectura Barroca em Portugal tem uma situação muito particular e uma periodização diferente do resto da Europa. É condicionada por diversos factores políticos, artísticos e económicos que originam várias fases e diferentes tipos de influências exteriores, resultando numa mistura original, frequentemente mal compreendida por quem procura ver arte italiana, mas com formas e carácter próprios.



Intenção critica em Memorial do convento


Quem lê a obra percebe logo desde o inicio que esta se apresenta como uma critica cheia de ironia e sarcasmo à opulência do rei e de alguns nobres por oposição à extrema pobreza do povo. «Esta cidade, mais que todas, é uma boca que mastiga de sobejo para um lado e de escasso para o outro»; »A tropa andava descalça e rota, roubava os lavradores». Os principais alvos de sátira são o adultério e a corrupção dos costumes. Encontramos criticas à Mulher, pois esta encontra-se à escondidas com homens («entre duas igrejas, foi encontrar-se com um homem.»); criticas a «uns tantos maridos cucos» e os frades pecadores não são perdoados, pois a sua missão não permitem que andem a içar «as mulheres para dentro das celas e com elas se» gozem.
Desenganem-se os os nobres e o próprio Rei, pois a critica não lhes passa ao lado, até porque José Saramago considera que as freiras o recebem «nas suas camas», nomeadamente a madre Paula de Odivelas.
A sátira estende-se a Mafra e à situação dos trabalhadores; à atitude do Rei em obrigar todos aqueles que eram capazes a trabalhar no convento; aos príncipes, como D. Francisco  que se entretém a «espingardear» os marinheiros ou quer seduzir a rainha, sua cunhada, e tomar o trono.



Linguagem e estilo em Memorial do convento


Linguagem e Estilo de José Saramago:
Pode não ser fácil compreender a escrita de José Saramago, pois o seu estilo é algo inovador, meio estranho, atrevo-me a dizer que algo de outro mundo para quem não está habituado a ler algo daquele género. A linguagem deste dramaturgo é "inventada", combinado características do discurso literário com o discurso oral, o que origina uma narrativa diferente e uma relação de cumplicidade entre o narrador e o narratário.

Deste modo, podemos referir como marcas essenciais da prosa de Saramago:
  • O tom simultâneamente cómico, trágico e épico;
  • O emprego de exclamações e «apartes»;
  • A ausência de pontuação convencional, sendo a vírgula o sinal de pontuação de maior relevância, marcando as intervenções das personagens, o ritmo e as pausas;
  • A coexistência de segmentos narrativos e descritivos sem delimitação clara;
  • O uso subversivo da maiúscula no interior da frase;
  • A presença constante de marcas de coloquialidade construídas pela relação narrador / narratário;
  • A mistura de discursos – discurso directo, indirecto, indirecto livre e monólogo interior – que aponta para uma reminiscência da tradição oral, em que contador e ouvintes interagem;
  • A intervenção frequente do narrador através de comentários, o que dificulta a identificação das vozes intervenientes;
  • O discurso reflexivo também construído pelo emprego de aforismos, provérbios e ditados populares;
  • A utilização predominante do presente – marca do fluir constante do narrador entre o passado e o presente.

O Narrador em Memorial do Convento


Estatuto:
  • É homodiegético - com a intenção de captar a atenção do narrador que se sente participante;
  • É heterodiegético - na maior parte da obra, quando narra a acção;
  • Por vezes torna-se autodiegético, quando representa um pensamento de uma personagem.
Focalização:
  • Omnisciente: tem um conhecimento absoluto tanto sobre as personagens, como sobre as informações dos eventos e move-se no presente, no passado e, consequentemente, no futuro;
  • Interna: a voz plural do narrador revela-se quando é mostrado o ponto de vista de uma personagem que vive a história.
  • Interventiva: é revelada quando o narrador tece comentários, juízos, registos de língua e marcas da contemporaneidade.



A ação em Memorial do Convento

A ação em Memorial do Convento anda à volta da vontade dos homens:
- Vontade dos franciscanos terem um convento;
- Vontade de D. João V de deixar assegurada a sucessão ao trono;
- Vontade do padre Bartolomeu de construir a sua máquina voadora;
- Vontade da Inquisição de assegurar o seu poder através dos autos-de-fé;
- Vontade do povo melhorar as suas condições de vida.

O narrados começa por nos apresentar a história de D. João V, a sua promessa ao franciscano arrábido de construir um convento em Mafra, se a rainha engravidasse. Em jeito de crónica de costumes, faz uma impiedosa sátira à nobreza e ao clero, não poupando o povo que, em dias de autos-de-fé, desce ao Rossio para se divertir a observar o massacre das vitímas do Santo Ofício.
Simultaneamente, encontramos a história de amor de Baltasar Sete-Sóis e de Blimunda Sete-Luas, duas pessoas que partilham o amor e o sonho do padre Barlotolomeu de Gusmão. É com a vontade dos três e com todas as outras vontades do domínio do fantástico que a Passarola levanta voo, sendo confundida, pelos que a observam, como algo sobrenatual. O povo tem a sua vontade de melhorar a qualidade de vida, e procura em Mafra trabalho sob falsas esperanças.

 
" A sagração da Basílica de Mafra será feita no dia vinte e dois de outubro de mil setecentos e trinta, tanto faz que o tempo sobre como falte, venha sol ou venha chuva, caia a neve ou sopre o vento, nem que se alague o mundo ou lhe dê o tranglomango"



D. João V

Historicamente, Rei de Portugal desde 1 de janeiro de 1707, D. João V, filho de D. Pedro II e de Maria Sofia de Neuburgo, adquire o cognome de Magnânimo devido à promoção de obras grandiosas como o Convento de Mafra. Casa em 1708 com D. Maria Ana da Áustria, de quem tem seis filhos, entre os quais D. José (sucessor no reino), D. Maria Bárbara (futura rainha de Espanha), e D. Pedro (consorte de D. Maria I). Das relações fora do casamento (incluindo com a madre Paula do Convento de Odivelas) tem outros filhos. 

Em Memorial do Convento, é caracterizado como:
- Megalómano;
- Infantil;
- Devasso;
- Libertino;
- Ignorante;
- Que não hesita em utilizar o povo, o dinheiro e a posição social para satisfazer os seus caprichos.
Poderoso e rico, D. João V, pensa "no que fará a tão grandes somas de dinheiro, a tão extrema riqueza", e anda preocupado com a falta de descendente, apesar de possuir bastardos. Promete "levantar um convento em Mafra" se tiver filhos da rainha Maria Ana Josefa, com quem tem relações para cumprimento do dever, em encontros frios e programados. A sua pretensão vai realizar-se com o nascimento da princesa Maria Bárbara e, apesar da deceção por não ser um menino, mantém a promessa de que "Haveremos convento." Em Memorial do Convento, o rei, que com "medo de morrer" decide a sagração da basílica de Mafra para o dia do seu aniversário (22 de outubro de 1730), surge, diferente da História, ridicularizado.


A inquisição em Portugal


No caso do acusado não se mostrar arrependido ou de ser reincidente, era condenado, em cerimónias chamadas autos-de-fé, a morrer na fogueira. A inquisição em Portugal terminou em 1821 depois da revolução liberal de 1820.

A inquisição era um tribunal eclesiástico destinado a defender a fé católica: vigiava, perseguia e condenava aqueles que fossem suspeitos de praticar outras religiões. Exercia também uma rigorosa vigilância sobre o comportamento moral dos fiéis e censurava toda a produção cultural bem como resistia fortemente a todas as inovações científicas. 
Na verdade, a igreja receava que as ideias inovadoras conduzissem os crentes à dúvida religiosa e à contestação da autoridade do Papa. A 23 de maio de 1536 – bula do Papa Paulo II - estabelece a inquisição em Portugal, no reinado de D. João III os judeus foram os mais perseguidos pela inquisição em Portugal. As novas propostas filosóficas ou científicas eram, geralmente, olhadas com desconfiança pela inquisição que submetia a um regime de censura prévia todas as obras a publicar, criando o Index (catálogo de livros cuja leitura era proibida aos católicos) sob pena de excomunhão. As pessoas viviam apavoradas e sabiam que podiam ser denunciadas a qualquer momento sem que houvesse necessariamente razão para isso. Quando alguém era denunciado, levavam-no preso e, muitas vezes, era torturado até confessar. Alguns dos suspeitos chegavam a confessar-se culpados só para acabar com a tortura.

 

Simbologia em Memorial do Convento


Memorial do Convento é uma obra onde podemos encontrar uma enormidade de elementos simbólicos. Para além de objetos, as personagens, os números, os espaços, parece que tudo tem um valor simbólico importantíssimo. Aqui ficam os símbolos e respectivo valor:

  • Convento de Mafra - representa a ostentação régia e o místico religioso. Mas também testemunha a dureza a que o povo está sujeito, a miséria em que vive, a exploração a que é sujeito apesar da riqueza do país;
  • Passarola voadora - simboliza a harmonia entre o sonho e a sua realização, o desejo de liberdade. Permitiu a união entre Bartolomeu Lourenço, Baltasar e Blimunda, que juntaram a ciência, o trabalho artesanal, a magia e a musica para construir e fazer voar a passarola. Símbolo de fraternidade e igualdade capaz de unir os homens cultos e os populares;
  • Blimunda - representa um elemento mágico difícil de explicar: possui poderes sobrenaturais que lhe permite compreender a vida, a morte, o pecado e o amor. Através de Blimunda o narrador tenta entrar dentro da história da época e denunciar a moral duvidosa, os excessos da corte, o materialismo e hipocrisia do clero, as perseguições e injustiças da inquisição, a miséria e diferenças sociais;
  • Número “sete” - é o número de dias de cada ciclo lunar, que regula os ciclos de vida e da morte na Terra. Símbolo de sabedoria e de descanso no fim da criação;
  • Baltasar Sete-Sóis / Blimunda Sete-Luas - o sol símbolo de vida, associa-se ao povo que trabalha incessantemente, como o próprio Baltasar, apesar de decepado. a lua não tem luz própria, depende do sol, tal como Blimunda depende de Baltasar. A lua atravessa fases, o que representa a periodicidade e a renovação;
  • Cobertor - símbolo de afastamento, da separação que marca o casamento de convivência entre o rei e a rainha. Liga-se à frieza do amor, à ausência do prazer, esconde desejos insatisfeitos;
  • Colher - símbolo de aliança, da “união de facto”, de compromisso sagrado. Exprime o amor autêntico numa relação de paixão, a atracção erótica de um casal que desenvolve uma calorosa paixão;
  • Mãe da Pedra- Outra situação-acontecimento de cariz mítico em Memorial do Convento constitui-se com a gesta heroica, epopeica, do transporte da pedra gigante de mármore, a mãe da pedra, de Pêro Pinheiro para Mafra. O tamanho gigantesco da pedra, o carro especialmente construído para o seu transporte, as duzentas juntas de bois e os seiscentos homens necessários para o puxarem, os difíceis obstáculos do caminho, à semelhança das narrativas de heróis clássicos, em que se anunciam os “trabalhos” fabulosos que terão de ser contornados e o esforço imperioso, mais do que humano, que terá de ser despendido.



quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Biografia e bibliografia de José Saramago


José de Sousa Saramago - (Golegã, Azinhaga, 16 de Novembro de 1922 — Tías, Lanzarote, 18 de Junho de 2010) foi um escritor, argumentista, teatrólogo, ensaísta, jornalista, dramaturgo, contista, romancista e poeta português.
Foi galardoado com o Nobel de Literatura de 1998. Também ganhou, em 1995, o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Saramago foi considerado o responsável pelo efectivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa. A 24 de Agosto de 1985 foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e a 3 de Dezembro de 1998 foi elevado a Grande-Colar da mesma Ordem.
O seu livro Ensaio sobre a Cegueira foi adaptado para o cinema e lançado em 2008, produzido no Japão, Brasil, Uruguai e Canadá, dirigido por Fernando Meirelles (realizador de O Fiel Jardineiro e Cidade de Deus). Em 2010 o realizador português António Ferreira adapta um conto retirado do livro Objecto Quase, conto esse que viria dar nome ao filme Embargo, uma produção portuguesa em co-produção com o Brasil e Espanha.
Nasceu no distrito de Santarém, na província geográfica do Ribatejo, no dia 16 de Novembro, embora o registo oficial apresente o dia 18 como o do seu nascimento. Saramago, conhecido pelo seu ateísmo e iberismo, foi membro do Partido Comunista Português e foi director-adjunto do Diário de Notícias. Juntamente com Luiz Francisco Rebello, Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues foi, em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC). Casado, em segundas núpcias, com a espanhola Pilar del Río, Saramago viveu na ilha espanhola de Lanzarote, nas Ilhas Canárias.